Final de ano; além das típicas comemorações, também é tempo de se fazer uma retrospectiva do período. Entre as atividades profissionais e pessoais desenvolvidas nos últimos 12 meses, gostaria de destacar uma.
Há bastante tempo tenho lido sobre a Idade Média. O tema tem chamado a minha atenção desde que descobri que fui enganado. Nos bancos escolares, tanto professores, quanto os materiais didáticos, informavam que o período entre os Séculos V e XV teria sido marcado pelo obscurantismo científico e pela opressão da nobreza e do clero, tendo sido rotulado tal período, posteriormente, pelos historiadores, de Idade das Trevas.
A Idade Média não pode ser reduzida a um período obscuro, atrasado em relação às ciências e aos costumes. Também não pode ser apresentada como um período perfeito, como querem certos românticos. Nos mil anos da Idade Média houve erros e acertos, pois, a história é desenvolvida por seres humanos, que são seres imperfeitos e não se pode esperar a perfeição de entes limitados e imperfeitos.
Considero interessante a História das Mentalidades, ramo da história cultural que estuda os modos de pensar e de perceber o mundo dos grupos sociais que compõem a sociedade em determinado período.
Fui positivamente impactado pela obra “A Cavalaria: o espírito que formou a cristandade”[1], de autoria de Léon Gautier[2]. A obra é composta por dois volumes, trazida ao mercado editorial brasileiro pela Editora Caravelas. O recorte dado pelo autor apresenta a evolução histórica e as características típicas da cavalaria, que contribuiu para a construção do pensamento medieval, com seus valores e crenças.
De origem germânica, com aprimoramentos realizados pelos franceses, de acordo com as pesquisas realizadas pelo historiador Léon Gautier, a cavalaria é responsável pela defesa de valores atemporais, a exemplo da bravura e da honra. Através das canções de Gesta, o autor da obra reconstrói a evolução dessa instituição moldada não só nos valores da bravura e da honra, conforme mencionado, mas também na fé e na lealdade, que serviu para a defesa de pequenos feudos e de grandes reinos, mormente a partir de Carlos Magno. A cavalaria ajudou na construção da nação francesa, permitindo a defesa de valores comuns e caros à mentalidade medieval, bem como a salvaguarda do território dos invasores bárbaros, notadamente dos sarracenos que invadiram parte da Europa e subjugaram as populações dos territórios invadidos.
Infelizmente, os valores que nortearam a cavalaria foram perdidos ao longo das Idades Moderna e Contemporânea, em especial os da honra, da lealdade, da justiça, e o do combate ao mal[3].
A cavalaria, como instituição, teve um papel importante não só na formação da cristandade, mas também do ocidente, mormente do continente europeu, com reflexos posteriores no Novo Mundo através dos descobrimentos realizados por Portugal e Espanha.
O que aprendi com a leitura da obra mencionada? Primeiro, o aprendizado acerca de um período histórico rico que tem sofrido ataques sistemáticos através de inverdades “históricas”; segundo, a compreensão dos valores inerentes à cristandade e à formação do ocidente, valores (honra, justiça e coragem/bravura) esses que precisam ser revigorados/resgatados para a construção de uma sociedade mais justa; terceiro, a descoberta de que é possível a reconstrução de uma sociedade saudável, fundada em valores fundamentais, desde que recuperemos, tanto na dimensão individual, quanto na coletiva, os valores de honra, justiça e coragem cultivados pelos cavaleiros medievais.
Com isso, exponho uma parte das minhas meditações de final de ano, desejando a todos um 2026 repleto de saúde, paz, prosperidade e, sobretudo, de coragem para mudar aquilo que for necessário para a reconstrução de uma sociedade, e por conseguinte, de um país no qual se valorize os ideais de honra, bravura (coragem para mudar) e de justiça, que outrora foram responsáveis pela formação do ocidente. Feliz 2026!
[1] GAUTIER, Léon. A cavalaria: o espírito que formou a cristandade. Vol. 01 e 02. São José dos Campos, SP: Editora Caravelas, 2025.
[2] Historiador literário francês, nascido em 08/08/1897, na cidade de Le Havre, e morto em 25/08/1897, em Paris.
[3] Pelo combate ao mal podemos inserir a luta permanente contra as injustiças, tanto perpetradas pelas pessoas quanto pelas entidades estatais.
Assista ao vídeo abaixo sobre o tema do texto:

2 Responses
Excelente exposição sobre os valores que a Cavalaria consolidou na Idade Média, bem como hábitos e costumes.
A obra é riquíssima e extraordinária. Parece uma máquina do tempo. Quem a lê, com devoção, se sente transportado para aqueles tempos, onde a moral, a coragem, a bravura, a verdade, a fidalguia, a humildade, enfim, os valores cristãos eram levados em conta e praticados. Chama a atenção o dever de doar aos pobres ou viúvas o necessário para suas subsistências.
Igualmente para ti e querida família um 2026 de muitas felicidades e realizações.
Abraço
Verdade, a obra de Léon Gautier sobre a cavalaria é uma verdadeira viagem no tempo, resgatando a história que é pouco divulgada, em especial os valores norteadores da cavalaria medieval.
Que Deus continue a te abençoar, bem como à estimada família, em 2026. Abraço.